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Meirelles, C.. Romanceiro da Inconfidência
vb. criado em 05/02/2011, 22h41m.
na mesma cova do tempo
cai o castigo e o perdão.
Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados...
- liras, espadas, cruzes,
pura cinza agora são.
Na mesma cova as palavras
o secreto pensamento,
as coroas e os machados,
mentira e verdade estão. /6
(...) A sede de ouro é sem cura,
e, por ela subjugados,
os homens maram-se e morrem,
ficam mortos, mas não fartos. /19
o ouro... é tão claro! - e turva tudo!
honra, amor e penpor exemplomento /20
o que aguenta as coroas
é sempre a espada brutal /25
Onde a fonte do ouro corre
apodrece a flor da lei /28
em cada vida de escravo
que surda, perdida guerra! /31
sempre vai desventura
onde formosura for /36
que tudo passa
o prazer é um intervalo
na desgraça /32
sobre o tempo vem mais tempo.
Mandam sempre os que são grandes,
e é grandeza de ministros
roubar hoje como dantes /33
amáveis sombras
que aqui jogastes
vosso destino,
na obrigatória
total aposta
que às vezes fazem
secretas vidas,
por sobre-humanas
fatalidades? /62
Liberdade - essa palavra
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que nao entenda! /75
Oh! como é triste a carne,
e triste o sangue, e o pranto
com que Deus se reparte,
incompreendido e manso
(como pedras sem ruído
cairão as vossas rezas
por desertos sem ouvido) /78
Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens
e a surda força dos vermes /95
tristemente humano
tristemente perseguido
tinha o mundo todo na alma
- e mendigava um abrigo /100
Mas não há resposta,
- que o traidor prudente
desliza nas sombras
não fala de frente /98
Por aqui brilhava a Arcádia,
com flores, versos, idílios,
(que querem dizer amores
aos ouvidos dos meirinhos?)
Não há nada que convença
quando escrivães e juízes
trocam por vacas paridas
por barras de ouro largadas
as testemunhas que servem
de fundamento às sentenças /112
os heróis chegam à gloria
só depois de degolados.
Antes, recebem apenas
ou compaixão ou desdém /115
tendo ou não tendo barba
conforme o que houvesse em frente
mudava sempre de cara /117
os figurantes (Capanema, 108; a testemunha falsa, 113!; o padre Rolim, 115; o caixeiro Vicente, que mordeu quem lhe pôs os dentes, 117!).
As ordens já são mandadas
já se apressam os meirinhos
pobres figuras odiosas,
curvadas a um vil serviço,
com suas penas rombudas
que estendem grossos rabiscos
horas e horas dedicados
ao monótono exercício
de executar os sequestros
por duro dever de ofício /121
Aos olhos dos santos pasmados,
para sempre jazem abertos
vossos corações - negros livros /126
Os pusilânimes, 125; o jogo de cartas, 129!.
Já vem o peso do mundo
com suas fortes sentenças /134
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa! /136
Ninguém faz o que quer
ninguém sabe o que faz
e os culpados, quem são? /145
Ai, terras negras d'África,
portas de desespero...
- quem parte, já vai cativo;
- quem chega, vem por desterro.
(Ai, terras negras d'África!
Ai, litoral dos medos...) /173
(É certo que hoje está sendo
alguém que outrora não foi.
O coração que já teve,
quem lho tirou e onde o pôs?) /188
Ai, pesava como ferro,
e era tudo vento e pó! /189
-A rainha prisioneira, 191.
Escreve, Marília, escreve
seu pequeno testamento;
na verdade, por que vive,
se a morte é seu alimento?
Se para a morte caminha,
na sege do tempo lento? /229
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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